21/05/2017

Palavras que podiam ser minhas...

Tirado daqui




"O meu maior desafio desde que o Santiago nasceu foi saber criar um “filtro” que me permite seguir alguns conselhos e afastar outros. Isto porque quando nasce um bebé, nasce também uma quantidade infinita de “sabe-tudos” que são mestres da pedagogia e que nos tentam impor a sua forma de viver. Fico espantada com o à vontade com que as pessoas se metem na educação, na alimentação, na vida diária e no método com que criamos os nossos filhos…que são nossos e que nós conhecemos melhor que ninguém, esta é a verdade. Na primeira consulta de pediatria do Santiago cheguei com mil e uma questões e todas eles começavam com “é verdade que…” ou “eu ouvi dizer que”. Depois de ter feito 50 mil perguntas a Dra. Joana Appleton Figueira olhou-me nos olhos e disse-me uma coisa que nunca mais vou esquecer : “Carolina, este é o SEU filho. O seu instinto vai-lhe dizer o que deve fazer muitas das vezes, confie nele.” E a verdade é que essa maxima me ajudou, e muito, daí para a frente. Apesar de existirem muitas coisas comuns a todos os bebés, cada bebé é único,singular e irrepetível e cabe-nos a nós conhecê-lo ao nosso ritmo e decifrar os seus sinais. Desde o início que sofri com muita gente a dizer “Não podes pegar no bebé a cada vez que ele chora”, “Olha que os bebés são manhosos, se começas a fazer isso ele faz o que quer de ti” ou então “Não podes habituá-lo ao colo, dás-lhe demasiado colo”. Não acredito que exista “demasiado colo” quando falamos de um recém nascido nem acredito que devemos “deixá-lo chorar”. Um bebé recém-nascido não chora por birra ou manha, chora porque é a única forma que tem de comunicar, e aos poucos, vamos entendo o que quer dizer. Os bebés precisam da mãe, do aconchego,do cheiro,da calma, precisam de nós porque vieram de dentro de nós e somos tudo aquilo que eles conhecem e reconhecem num mundo que lhes é totalmente novo! Por isso sim, peguei e pego muito ao colo, adormeço o meu filho e vou socorrê-lo quando chora apesar de todas as vozes que dizem que “isto é só mimo.” e que o meu filho “é tão agarrado à mãe” como se isso fosse uma coisa má.

A fase do pós-parto já e tão desafiante por si só que eu não entendo como é que ainda existe esta necessidade e este à vontade de pressionar as mães para serem aquilo que os outros acham que devemos ser. Se não soubermos criar limites, todas essas opiniões só nos vão causar sofrimento, só nos vão desorientar e muitas vezes vão-nos fazer sentir que estamos constantemente a errar. Ninguém tem esse direito. Claro que há muita coisa que não sabemos e que devemos ouvir, ouvi a minha mãe e a minha sogra quando me ensinaram a dar o banho sem medo, ouvi os seus conselhos e ainda hoje sigo e aprendo muita coisa que me é ensinada, mas prezo muito a minha privacidade e a minha liberdade no que toca a educar e a criar os meus filhos.

Outra coisa que me assustou foi a sensação de que não podemos dizer a coisa errada nem fazer a pergunta errada. Parece que está toda a gente à espera que façamos uma pergunta estúpida ou que digamos alguma coisa estúpida para nos cairem em cima. As pessoas são muito duras a julgar os outros, principalmente a julgar as mães. Estamos todas à procura da melhor forma de fazer as coisas e muitas vezes o que para nós é obvio para outra pessoa pode não ser e nessa altura, quando essa pessoa nos procura ou nos coloca questões,devemos procurar auxiliar antes de criticar. A verdade é que existem pessoas que pouco ou nenhum apoio têm em casa e que vão procurar respostas para as coisas mais elementares, porque não têm orientação ou porque os exemplos que têm não são os melhores. Ter medo, ter dúvidas é tão natural como respirar e eu acredito que se olharmos umas para as outras como parte da mesma equipa e não como alvos a abater podemos disfrutar, e muitas vezes encontrar paz, na maravilha que é a entreajuda.

10 meses passados aqui estou eu, continuo à procura do meu lugar de paz entre as pessoas que dizem que só dão fruta do pomar do jardim do Éden ultrabiológica aos filhos e as que dizem que as crianças têm é de ser felizes e que não faz mal nenhum dar um chocolatinho. Criei o meu forte, o meu ninho, onde entram as vozes que eu procuro e onde fazemos as coisas com conta peso e medida e encontramos o equilibrio para criar crianças saudaveis, fortes e felizes.



Por isso,por favor, usufruam do vosso direito de dizerem : “SHIU” (Ainda que seja só dentro da vossa cabeça)e de viverem ao vosso ritmo, com os vossos filhos,ainda que a vossa vizinha ache que têm um casaco a mais ou a menos ou que são mimados ou que não têm amor. Os outros são os outros, por isso tratemos dos nossos."

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